ERA UMA VEZ O CINEMA


Dogville (2003)

cover Dogville

link to Dogville on IMDb

País: Dinamarca, 178 minutos

Título Original: Dogville

Diretor(s): Lars von Trier

Gênero(s): Crime, Drama

Legendas: Português,Inglês, Espanhol

Tipo de Mídia: Cópia Digital

Tela: 16:9 Widescreen

Resolução: 1280 x 720, 1920 x 1080

Avaliação (IMDb):
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8.0/10 (128721 votos)

DOWNLOAD DO FILME E LEGENDA

PRÊMIOS star star star star star

Academia do Cinema Europeu

Prêmio de Melhor Fotografia

Prêmio de Melhor Direção (Lars von Trier)

Festival Robert de Copenhague, Dinamarca

Robert de Melhor Roteiro Original

Robert de Melhor Figurino

Festival Internacional de Sofia, Bulgária

Prêmio do Público (Lars von Trier)

Prêmios Bodil - Copenhague, Dinamarca

Bodil de Melhor Filme Dinamarquês

Grande Prêmio Brasileiro de Cinema, Brasil

Prêmio de Melhor Longa-Metragem Estrangeiro

Prêmios David di Donatello, Itália

David de Melhor Filme da União Européia

Sinopse: Ao criar o movimento Dogma 95Lars von Trier e seus amigos conseguiram chamar a atenção do mundo com filmes mal iluminados, sem trilha sonora, com imagens tremidas e outras excentricidades. Como até hoje nao foi desenvolvido nenhum filme que siga à risca (ao mesmo tempo) TODAS as regras propostas, alguns estudiosos do cinema defendem que o movimento não passa de um golpe de marketing, para tornar seus autores famosos.

Sem querer julgar ninguém, o fato é que von Trier chegou a Cannes em 1996 chamando a atenção com Ondas do destino (Breaking the Waves) e saiu do balneário francês em 2000 segurando a Palma de Ouro por Dançando no escuro (Dancing in the Dark). Este ano, o circo estava todo montado para que a cena se repetisse. Mas o dinamarquês chegou como favorito e saiu de maõs abanando.

Problema? Nem tanto, o barulho em torno de Dogville já era bem alto. E não é para menos. A história se passa numa imaginária cidade americana chamada Dogville. Imaginária no sentido literal da palavra, pois as paredes, portas e janelas das casas não passam de riscos no chão (bem ao estilo daquela musica infantil "era uma casa, muito engraçada, não tinha teto, nao tinha nada").

O filme é dividido em 10 partes - cada uma com créditos e introdução narrada - sendo 1 prólogo e 9 capítulos. A trama acontece em um único local, uma cidade pequena dos Estados Unidos chamada "Dogville", situada no fim de uma estrada que vai até as Montanhas Rochosas, na época da Grande Depressão estadunidense.

O filme começa com uma tomada de cima para baixo, onde se pode ver o desenho da cidade (com as marcações dos espaços das casas no chão). Essas tomadas perpendiculares repetir-se-ão em diversas cenas, sendo marcos importantes da narrativa. O narrador vai então apresentando os personagens um por um ("todos têm pequenos defeitos facilmente perdoáveis") e contando suas histórias.

Entre os moradores de Dogville, o personagem principal é Thomas Edison Jr., escritor que, para protelar o dia em que terá que começar a escrever seu livro, ocupa-se em pregar sermões a toda a comunidade sobre rearmamento moral. Ele está procurando um exemplo para servir de ilustração a suas teorias e assim comprovar que os moradores não são capazes de aceitar novas situações, quando é interrompido por barulhos de tiros a distância.

Nesse momento entra Grace, bela jovem com vestido que denota sua origem de família rica. Ela diz a Tom que está fugindo de um gângster e Tom, percebendo nela o exemplo perfeito para sua palestra, dá-lhe cobertura.

Os moradores de Dogville a princípio recusam-se a aceitá-la, e Tom propõe que dêem a Grace um prazo de duas semanas, para então decidirem sua sorte. Grace, em compensação, deve ajudá-los em tarefas cotidianas. Apesar de não admitirem, eles jamais dão coisa alguma, não há generosidade ou aceitação: há um sistema de trocas e é esse sistema de compensações (o quid pro quo) que, aliado à personalidade de perdoar de Grace (seu altruísmo), anuncia a tragédia.

Os moradores relutam até mesmo em aceitar a ajuda de Grace, mas acabam aceitando, e ela rapidamente começa a passar seus dias ocupada em fazer pequenas coisas que "não são necessárias", mas que os moradores "generosamente" permitem que ela faça. E assim passam-se as semanas, os moradores aceitam que Grace fique na vila, como mais um favor que ela ficará devendo a eles.

Tom confessa a Grace que gosta dela e é correspondido, mas ele não assume publicamente seu amor perante Dogville, mantendo o romance deles secreto e mantendo Grace na condição de estrangeira.

A aparente tranqüilidade da situação começa a mudar no dia da Independência, quando a cidadezinha recebe a visita da polícia, que afixa um cartaz em que Grace é apontada como procurada.

Os moradores consideram ainda maior a dívida de Grace com eles, fazendo cada vez mais exigências, que, diante da complacência e comportamento passivo da forasteira, rapidamente transformam-se em abusos. Uma cena forte do filme ocorre quando ela é estuprada por Chuck, como "pagamento" para que ele não a denunciasse às autoridades. Aqui a função do cenário vazio é clara: a ausência de paredes dá a nítida percepção de que todos sabem o que se passa, mas fingem não ver.

A comunicação também não parece ser possível para os moradores de Dogville. O que eles falam passa longe de significar o que realmente querem dizer. Quando questionados são evasivos, mudam de assunto ou simplesmente respondem outra coisa. Chuck fala de colheita de maçãs quando está querendo abusar sexualmente de Grace, e Ma Ginger reprime-a quando ela passa entre os arbustos, com argumentos que simplesmente não correspondem àquilo que ela diz.

Desse ponto em diante, a constante dívida de Grace com a comunidade só cresce, e ela torna-se escrava não só de trabalho braçal como sexual. Passam então a tratá-la como escrava, que puxa um arado, e sofre abusos sexuais generalizados entre os homens. Somente Tom, sem capacidade de tomar qualquer atitude, não a viola. E é após ela o rejeitar, que ele decide dar um basta nessa pequena metáfora ilustrativa que ela representa, chamando o gângster que a procurava.

Nesse momento revela-se que Grace não está sendo ameaçada por eles, mas é filha do chefe maior. Quando Grace entra no carro, o diretor vai preparando a platéia para a ideia de que haverá um massacre. O final catártico faz que Dogville apresente estrutura narrativa herdeira das tragédias gregas, em que a platéia era levada a uma situação de tensão insuportável e liberava a adrenalina contida no final trágico.

Desde sempre, quase toda obra de arte é, em última instância, retrato do ser humano. Lars von Trier faz um retrato de pessoas cruéis, mesquinhas, egoístas e arrogantes.

Tom é um covarde, incapaz de assumir responsabilidade alguma (o drama de Grace começa no dia da Independência, quando ele não assume o romance com ela). Os habitantes da vila são seres humanos que se comportam de forma instintiva, guiados por suas necessidades físicas e seus próprios interesses.

Grace jamais foi cativa ou submissa, nunca sentiu real misericórdia e sim desprezo. Se ela realmente quisesse, poderia simplesmente ir embora. Os verdadeiros prisioneiros são os moradores.

Dogville é aponta para uma visão hobbesiana de natureza humana, em oposição a ideias relacionadas ao "mito do bom selvagem".

Nos Estados Unidos, muitos espectadores sentiram-se ofendidos, acusando Lars von Trier de ser antiamericano. O fato de ele jamais ter visitado os Estados Unidos e de fotografias do período da depressão e de pessoas miseráveis estadunidenses serem usadas durante os créditos finais, ao som da música Young Americans de David Bowie, não depuseram a seu favor.

 

Elenco: