ERA UMA VEZ O CINEMA


O Intendente Sansho (1954)

cover O Intendente Sansho

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País:Japão, 124 minutos

Título Original: Sanshô Dayû

Diretor(s): Kenji Mizoguchi

Gênero(s): Drama

Legendas: Português,Inglês, Espanhol

Tipo de Mídia: Cópia Digital

Tela: 16:9 Widescreen

Resolução: 1280 x 720, 1920 x 1080

Avaliação (IMDb):
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8.4/10 (12931 votos)

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PRÊMIOS star star star star star

Festival Internacional de Cinema de Veneza

Prêmio Leão de Prata (Kenji Mizoguchi)

Sinopse: Quando o governador de Tango, Masauji Taira (Masao Shimizu), um feudo do Japão do período Heian, mostra compaixão pelos seus subalternos, é exilado pelo seu senhor feudal, tendo de se separar da mulher e filhos. Anos mais tarde a mulher, Tamaki (Kinuyo Tanaka), e os filhos Zushiō e Anju viajam para reunir com ele, mas são enganados por uma falsa sacerdotiza que vende Tamaki para prostituição, e as crianças para escravatura nas terras administradas por Sanshō (Eitarō Shindō). Ali, depois de se tornarem adultos, Anju (Kyōko Kagawa) procura convencer o irmão Zushiō (Yoshiaki Hanayagi) que mais importante que sobreviverem nas graças de Sanshō é lutarem pela liberdade, e viverem seguindo o exemplo de dignidade e compaixão mostrado pelo seu pai.

O período descrito por Mizoguchi é um período feudal, em que a administração de Quioto coloca os terrenos nas mãos de governadores, a quem dá carta branca, desde que cumpram com os pagamentos devidos. Nessa realidade vão distinguir-se dois modos diferentes de estar. Por um lado o governador que luta pelo seu povo, e acaba destituído, não sem antes ensinar ao seu filho o sentido da justiça e compaixão pelos mais fracos. Do outro estão homens como Sanshō (Eitarō Shindō), cruéis, prepotentes, não olhando a meios para caírem nas graças de quem lhes está acima, usando para isso o povo como escravo.

“O Intendente Sansho” conta-nos a saga da família de Masauji Taira (Masao Shimizu), um desses governadores conscienciosos que, por poupar o seu povo, incorre na ira dos seus superiores, acabando isolado. Acompanhamos, na abertura o regresso da sua esposa, Tamaki (Kinuyo Tanaka), e dos filhos ainda crianças, Zushiō (Masahiko Kato) e Anju (Keiko Enami), num momento em que tudo parece luz e esperança, como o esperado de um ansiado reencontro. Mas para desgraça da família, estes são raptados e vendidos, a mãe para prostituição na ilha de Sado, os filhos para escravos nas terras de Sanshō.

Perante a maldade de Sanshō, e a crueldade com que trata os escravos, os dois jovens pensam fugir, mas percebem que não o conseguirão em tão tenra idade, pelo que aguardam até à idade adulta. Só que em adultos, o hábito leva à resignação, e Zushiō (Yoshiaki Hanayagi) é já visto como um fiel servidor de Sanshō, desgostando mesmo a sua irmã Anju (Kyōko Kagawa). A ruptura dá-se quando uma nova escrava traz notícias sob a forma de uma canção, que parece indicar que Tamaki está viva, em Sado. Tal dá coragem aos dois jovens, e Anju convence o irmão a fugir sem ela, preferindo suicidar-se depois, para não o trair sob tortura.

Zushiō consegue chegar a Quioto e mostrar quem é. É recebido pelo Ministro da Justiça, um antigo admirador do seu pai, que lhe restitui a governação de Tango, que pertencera ao pai. Para honrar a memória do pai Zushiō, decreta a libertação de todos os escravos, mesmo nas terras privadas, como a regida por Sanshō. Um encontro entre os dois leva ao exílio de Sanshō e destruição da sua casa, ao mesmo tempo que Zushiō descobre que a irmã morrera. Cumprido o seu propósito, Zushiō abdica da governação e viaja para encontrar o pai, descobrindo que este morreu meses antes. Viaja então para procurar a mãe (reconhecendo-a pela mesma canção antes aprendida pela irmã), agora uma ex-prostituta, cega e doente.

Tal como acontecera com “A Vida de O’Haru” (Saikaku ichidai onna, 1952), Mizoguchi conta uma história trágica de queda, neste caso de uma família. Se no filme de 1952 o catalisador dessa queda fora o carácter irreverente de uma mulher que queria gozar de mais liberdade de escolha que aquela a que tinha direito no seu tempo, neste filme esse catalisador é simplesmente a bondade, e humanidade para com os outros.

É ela a causa da perdição do governador, que depois originará a venda da sua mulher e filhos. Indo mais longe nas desgraças individuais, é ainda a dignidade de Tamaki, que não se resigna ao destino a que a forçam, que lhe valem mutilações físicas. Do mesmo lado é o altruísmo e bondade de Anju que lhe valem a morte. Em ambos os casos, novos exemplos de Mizoguchi de como é a mulher o elo mais fraco, e a primeira a sofrer com a injustiça humana.

Tal como em “A Vida de O’Haru”, Mizoguchi socorre-se de alguns flashbacks (mostrando a queda do governador e as suas palavras ao filho), e deixa a narrativa de Zushiō e Anju por uma vez, para nos mostrar a desgraça da mãe. Mas é com os dois jovens que o filme permanece, e através seus olhos que testemunhamos a crueldade de uma era.

Num comovente melodrama, Kenji Mizoguchi narra-nos a saga de uma família no seu confronto com a injustiça de um mundo que faz dos homens menos que seres humanos. É um retrato doloroso, filmado com um ritmo próprio, em que cada cena (sejam curtos planos, ou longos plano-sequências) conta como mais um momento de opressão, nunca nos deixando descansar da ideia de que é de maldade que o filme trata. Mas como sempre, Mizoguchi fá-lo com distanciamento, preferindo a contemplação de um plano geral à exposição sentimental de um grande plano (veja-se o modo simples, distante, e tristemente belo, como nos mostra o suicídio de Anju).

 

Elenco: