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ERA UMA VEZ O CINEMA


O Pranto De Um Ídolo (1963)

cover O Pranto De Um Ídolo

link to O Pranto De Um Ídolo on IMDb

País: Inglaterra, 134 minutos

Titulo Original: This Sporting Life

Diretor(s): Lindsay Anderson

Gênero(s): Drama, Esporte

Legendas: Português,Inglês, Espanhol

Tipo de Mídia: Cópia Digital

Tela: 16:9 Widescreen

Resolução: 1280 x 720, 1920 x 1080

Avaliação (IMDb):
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7.7/10 (5446 votos)

DOWNLOAD DO FILME E LEGENDA

PRÊMIOS star star star star star

BAFTA Awards 1964

Best British Actress - Rachel Roberts

Cannes Film Festival 1963

Best Actor Richard Harris

National Board of Review, USA 1963

Top Ten Films

INDICAÇÕES star star star star star

Academy Awards, USA

Best Actor in a Leading Role - Richard Harris

Best Actress in a Leading Role - Rachel Roberts

BAFTA Awards 1964

Best British Actor - Richard Harris

Best British Screenplay - David Storey

Best British Film

Best Film from any Source

Cannes Film Festival 1963

Palme d'Or - Lindsay Anderson

Adaptado da novela de David Storey – dramaturgo, roteirista, novelista e jogador de rúgbi aposentado – O Pranto de um Ídolo (This Sporting Life, 1963) é um filme intenso e ambíguo, onde qualquer plot ou conflito externo é jogado fora para concentrar no diálogo externo e confuso do personagem, um homem confuso que percebe o mundo como agressivo para consigo e devolve da mesma forma, cada vez mais irado e violento dentro e fora dos campos. O personagem, ao mesmo tempo dócil e abusivo, tão sucedido quanto fracassado, agarra a única oportunidade que tem de subir da vida com unhas e dentes, e assume isso como padrão para os outros. Filho de uma cultura opressora e elitista, Frank não sabe lá muito bem como agir com cautela: esbanja-se, abusa, recusa um “não”, parece não perceber o misto de desprezo e paparicação de seus empresários.

Como os filmes de Karel e Tony Richardson e outros como O Mundo Fabuloso de Billy Liar (Bily Liar, 1963), e como já ocorria na oposição entre fábricas e pubs nos documentários do Free Cinema,  o trabalho operário exaustivo e perigoso erguido sob a égide Fordista despersonalizava o indivíduo, tornando-o número, estatística, deixando-o embrutecido e alienado. Junto com o menino-problema de A Solidão de Uma Corrida Sem Fim e o torneiro mecânico hedonista e irresponsável de Tudo Começou no Sábado, encontra-se um misto de revolta cansado com o establishment, mas sem saber como quebrar tais paradigmas – são ingleses típicos da classe operária, com elementos até conservadores em suas personalidades, mas de caráter tanto caótico e anarquista, pouco desejoso de assumir “seu lugar” na grande roda, de atender ao sistema onde foram inseridos: sempre estão correndo, discutindo, gritando, fugindo, vagando sem rumo certo.

Assim é a câmera de Lindsay, que funde a tendêcia quase documental iniciada no neo-realismo  - agora as locações naturais – as casas, as ruas, as pontes e os campos que falam – com um lirismo expressivo que evoca imagens brutais. A referência de Vigo seria ampliada em Se... (If..., 1968), onde o tom sociopolítico de revolta seria incrementado junto com uma narrativa mais formal ainda. Não que aqui Lindsay careça de ousadia: o grande mérito dessa obra-prima debut de ficção do diretor é conseguir extrair pura poesia visual de interiores sujos e lúgubres, ruas cinzas e esfumaçadas, das metáforas que são captadas no próprio dispositivo: lama, sangue, suor e dentes quebrados combinam com cortes secos, com cenas sem rumo e desenho psicológico óbvio, câmeras trepidantes e pura criação imagética que confunde o espectador, que por vezes entre um grande diálogo, cria-se sequências de ação que não constituem drama, mas antes uma construção de impressões perturbadora que intentam criar sensação de confusão, angústia e dor em um filme tão movido pela impulsão quanto seu personagem.

É perceptível a identificação dos diretores do British New Wave, apelidados de “Angry Young Men” - jovens revoltados – com seus protagonistas. Pessoas  de personalidade fortes e ambíguas, que pedem licença para tramas de gênero e fazem suas impulsões e infernos pessoais moverem as histórias para a frente. O preto-e-branco demarcado e carregado transforma seus personagens: dóceis quando iluminados, confusos e à beira do colapso nos cinzas, violentos, cruéis e desesperados quando mergulhados em escuridão. Mais de uma vez estão desarrumados, suados e sujos, ou então, como essa é uma história de ilusória ascensão, em roupas que não lhes cabem, que os deixam desconfortáveis, sem saberem como agir. Era o espírito da década de sessenta: capitalismo contra comunismo, jovens contra velhos, revolta contra conformismo. Distantes das provocações de discussões intelectuais, aproximavam-se em temas e protagonistas que eram regionais para serem universais. Os protagonistsa de O Pranto de um Ídolo estão abandonados, sem pais, obedecendo uma lógica, tentando driblar essa lógica, tentando sobreviver.

Os finais de semana como única válvula de escape, as corridas longas e solitárias, essas vidas esportivas que prometem mas ao invés de transformar o protagonista em alguém o transformam em outro mascote desumanizado e despersonalizado. O descontantemento contra noções como aristocracia e elite foram as matérias-primas de um movimento não só tematicamente mas também esteticamente aproximado: a busca por uma narrativa livre, por imagens destacadas dentro do conjunto, a associação livre, o trabalho atmosférico mergulhados tanto no tédio inerte quanto na visceralidade intensa: O Pranto de um Ídolo chama nossos olhares, oferece grandes e fortes imagens, quer concentrar toda a revolta de uma geração que se sente injustiçada em eficientes momentos-síntese que são a válvula da movimentação frenética e de rumo livre das câmeras que querem capturar uma nova Inglaterra, com novos indivíduos, com novos anseios, dispostos a lutar e se vingar; são filmes exaustivos em sua intensidade emocional, onde o tom dramatúrgico trabalhado funde comentários sociais, relações pessoais desgastadas e conflitos internos são suficientes para deixar o espectador devastado.

 

Elenco: