ERA UMA VEZ O CINEMA


Shakespeare Apaixonado (1998)

cover Shakespeare Apaixonado

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País: USA, 123 minutos

Titulo Original: Shakespeare in Love

Diretor(s): John Madden

Gênero(s): Drama, Comédia, Romance, História

Legendas: Português,Inglês, Espanhol

Tipo de Mídia: Cópia Digital

Tela: 16:9 Widescreen

Resolução: 1280 x 720, 1920 x 1080

Avaliação (IMDb):
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7.1/10 (210724 votos)

DOWNLOAD DO FILME E LEGENDA

PRÊMIOS star star star star star

Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood, EUA

Oscar de Melhor Filme

Oscar de Melhor Roteiro Original

Oscar de Melhor Trilha Sonora

Oscar de Melhor Atriz (Gwyneth Paltrow)

Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante (Judi Dench)

Oscar de Melhor Direção de Arte

Oscar de Melhor Figurino

Oscar de Melhor Canção Original (Stephen Warbeck)

Academia Britânica de Cinema e Televisão, Inglaterra

Prêmio de Melhor Filme

Prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante (Judi Dench)

Prêmio de Melhor Edição

Prêmios Globo de Ouro, EUA

Prêmio de Melhor Filme - Musical ou Comédia

Prêmio de Melhor Roteiro

Prêmio de Melhor Atriz em um Musical ou Comédia (Gwyneth Paltrow)

Festival Internacional de Berlim, Alemanha

Prêmio Urso de Prata de Melhor Roteiro

Prêmios Leão Tcheco, Praga, República Tcheca

Leão Tcheco de Melhor Filme em Língua Estrangeira

Círculo dos Críticos de Cinema de Nova York, EUA

Prêmio de Melhor Roteiro (Marc Norman, Tom Stoppard)

Sinopse: Escrito por Tom Stoppard e Marc Norman, “Shakespeare Apaixonado” nos traz o famoso personagem título (Joseph Fiennes) no auge de uma crise criativa, impossibilitado de escrever sua nova peça que, inicialmente, deveria se chamar “Romeu e Ethel, a filha do pirata”. No entanto, sua inspiração volta com força total quando ele conhece a bela Viola De Lesseps (Gwyneth Paltrow), uma moça da alta sociedade com quem ele vive um intenso romance proibido, que servirá como base para o seu novo trabalho.

Extremamente bem estruturado e criativo, o roteiro de Stoppard e Norman emprega um tom de fábula à narrativa, trazendo um Shakespeare até mesmo engraçado em seu desespero diante do bloqueio criativo que o acomete. Desenvolvendo ainda outros personagens interessantes como a própria Viola e o espalhafoso, mas adorável Philip Henslowe de Geoffrey Rush, o roteiro escorrega apenas ao criar um Lord Wessex extremamente unidimensional e desprezível, deixando pouco espaço para que Colin Firth demonstre seu talento.

Já Tom Wilkinson transmite toda a insegurança de Hugh Fennyman antes de sua participação na peça, num momento singelo e tocante que humaniza um personagem até então pouco significativo, enquanto Judi Dench encarna a poderosa Rainha da Inglaterra com autoridade, transmitindo segurança em cada frase pronunciada, numa participação rápida e eficiente que, ainda assim, jamais justificaria o Oscar que ela recebeu.

Espalhafoso, mas adorável Philip HensloweLord Wessex unidimensionalInsegurança de Hugh FennymanRepleto de diálogos elegantes inspirados na obra de Shakespeare, o roteiro utiliza diversos momentos do romance entre o dramaturgo e Viola como inspiração para passagens famosas da história de Romeu e Julieta, como o encontro na sacada e a noite de amor, que surgem logo após ele viver estas experiências com sua musa inspiradora. O texto faz ainda uma curiosa menção a John Webster, dramaturgo contemporâneo de William Shakespeare que se especializou em peças trágicas como “The White Devil” e “The Duchess of Malfi”.

Conduzindo esta narrativa envolvente com segurança, John Madden tem méritos ainda por tornar crível a relação central da narrativa, já que o sucesso deste romance é essencial para que “Shakespeare Apaixonado” funcione. Obviamente, a boa química entre os atores colabora muito neste sentido. Muito menos talentoso que o irmão famoso, Joseph Fiennes confere leveza e carisma ao dramaturgo, saindo-se muito bem em momentos especiais, como quando conta o final da peça num ensaio, no qual a expressão de alívio misturada com ressentimento em seu rosto transmite a satisfação do autor por ter concluído sua obra e, simultaneamente, a aflição do homem por trás do artista por estar perdendo a mulher amada.

Noite de amorDramaturgoDonzela apaixonadaMulher amada que é vivida por Gwyneth Paltrow, que se sai bem como a donzela apaixonada, pronunciando as lindas frases escritas por Shakespeare com fervor e transmitindo os sentimentos da personagem com precisão. E nem mesmo seu disfarce risível compromete sua atuação, já que a narrativa claramente brinca com este aspecto que poderia soar incômodo, como quando o barqueiro afirma que o disfarce dela “não enganaria uma criança” após revelar para Shakespeare que Thomas Kent, na verdade, é uma mulher. Completando o elenco, Ben Affleck tem uma pequena participação como Ned, que vive Mercutio na peça e é também quem sugere o famoso título “Romeu e Julieta”, enquanto Imelda Staunton vive a engraçada Ama de Viola, remetendo à atuação igualmente simpática de Pat Heywood no filme de Franco Zeffirelli.

Ajudando em nossa completa imersão naquele ambiente, a excepcional reconstituição de Londres concebida pelo design de produção de Martin Childs recria as ruas sujas da cidade com precisão e ainda cria ambientes grandiosos como os teatros e a casa de Viola, assim como a figurinista Sandy Powell capricha nas vestimentas portentosas das pessoas da alta classe, contrastando diretamente com as roupas rasgadas e maltrapilhas da fatia pobre da população, utilizando ainda vestimentas nos ensaios da peça que remetem diretamente ao citado clássico “Romeu e Julieta”, de 1968.

Disfarce risívelReconstituição de LondresVestimentas nos ensaiosAtravés da composição dos planos e da paleta de cores escolhida, Madden e seu diretor de fotografia Richard Greatrex também fazem diversas referências visuais a “Romeu e Julieta”, como na cena do baile e na conversa do casal na sacada.

Explorando muito bem a beleza dos cenários, a fotografia de Greatrex se sai ainda melhor nas belas cenas noturnas, que ganham um colorido especial graças às escolhas dos diretores, como na conversa entre Shakespeare e Viola num barco, onde os rostos deles surgem iluminados enquanto o restante do plano é dominado pelas sombras. Madden também compõe belos planos na primeira noite de sexo deles, numa clássica cena de amor hollywoodiana que funciona muito bem aqui pelo carisma dos personagens e pelas escolhas estilísticas do diretor.

Ainda na parte técnica, a montagem de David Gamble confere um ritmo agradável ao longa, servindo também para escancarar a fonte de inspiração de Shakespeare ao intercalar cenas do ensaio da peça e do romance deles, numa sequência elegante que funciona ainda melhor graças à trilha sonora delicada de Stephen Warbeck.

Outro momento inspirado acontece quando os atores ensaiam o duelo de espadas e são atacados pela turma do outro teatro, passando a misturar ensaio e realidade num balé coreografado com destreza pelo diretor. Nesta mesma sequência, quando Shakespeare e Viola se escondem embaixo do palco e se beijam, repare como o som ao redor praticamente some, num interessante recurso narrativo que ilustra a percepção deles naquele instante. É como se o mundo tivesse parado para que eles curtissem aquele momento.

Conversa entre Shakespeare e Viola num barcoDuelo de espadasSe escondem embaixo do palco e se beijamEmbalada por uma trilha sonora agora sombria, a tragédia toma conta da tela quando Viola descobre a existência da esposa de Shakespeare e, segundos depois, a morte de Marlowe (Rupert Everett) é anunciada, num momento chave da narrativa que começa a preparar o clímax.

Esta sensação é ampliada pelo fechamento do teatro e a revelação de que ela é uma mulher no último ensaio, criando o conflito que nos levará ao desfecho empolgante de “Shakespeare Apaixonado”. Preparado com cuidado, o clímax no teatro é conduzido com precisão por John Madden e engrandecido pelas atuações apaixonadas. Assim, quando a interpretação da peça termina e os aplausos surgem efusivos após um breve silêncio, o espectador também está eufórico pela beleza do que vê na tela, num ótimo exemplo de como utilizar clichês com eficiência. Por mais previsível que seja, funciona muito bem.

O final bem amarrado ainda abre a deixa para a próxima obra de Shakespeare conhecida como “Noite de Reis” e protagonizada justamente por uma mulher chamada Viola, o que atesta a qualidade do roteiro, que aproveita muito bem a interessante ideia de misturar a obra de William Shakespeare com acontecimentos fictícios de sua vida pessoal.

Criativo, leve e muito bem interpretado, “Shakespeare Apaixonado” não é o melhor filme de 1998, mas nem por isso devemos fechar os olhos para os seus méritos. Misturando fatos e personagens reais com acontecimentos fictícios, o longa nos diverte com graça e leveza enquanto nos permite acompanhar um verdadeiro gênio em pleno processo criativo. E que sentimento pode nos dar mais inspiração do que o amor?

 

Elenco: