ERA UMA VEZ O CINEMA


Trinta Anos Esta Noite (1963)

cover Trinta Anos Esta Noite

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País: França, 108 minutos

Titulo Original: Le Feu Follet

Diretor(s): Louis Malle

Gênero(s): Drama

Legendas: Português,Inglês, Espanhol

Tipo de Mídia: Cópia Digital

Tela: 16:9 Widescreen

Resolução: 1280 x 720, 1920 x 1080

Avaliação (IMDb):
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8.0/10 (7256 votos)

DOWNLOAD DO FILME E LEGENDA

PRÊMIOS star star star star star

Festival Internacional de Veneza, Itália

Prêmio do Júri Especial (Louis Malle)

Prêmio Pasinetti de Melhor Filme (Louis Malle)

INDICAÇÕES star star star star star

Festival Internacional de Veneza, Itália

Prêmio Leão de Ouro (Louis Malle)

Academia Japonesa de Cinema, Japão

Prêmio de Melhor Filme em Língua Estrangeira

Sinopse: Desde certamente antes de se submeter a um tratamento de desintoxicação para alcoólatras em uma clínica de recuperação especializada, Alain Leroy tem pensado em desistir da própria vida, e no dia em que completa 30 anos de idade, o qual coincide com o atestado da “cura” dado por seu médico, o depressivo sujeito decidirá, após reencontrar muitos de seus amigos parisienses, se vale mesmo a pena permanecer vivo.

O niilismo, aliás, era um tema com que Pierre Drie La Rochelle, o escritor do livro que inspirou este Trinta anos esta noite, namorou durante toda a sua vida adulta antes de efetivamente cometer suicídio em 1945, e que Louis Malle, um dos nomes menos lembrados da nouvelle vague, apropria-se para desenvolver esta angustiante narrativa que ainda serve como retrato fiel da geração de jovens diretores contestadores aos quais se filiou.

Além de reproduzir integralmente a abordagem estética da nouvelle vague através dos longos planos, da câmera sobre o ombro e da fotografia em branco e preto, que ressalta também a decisão entre a vida ou a morte com que Alain se depara, Louis Malle discorre sobre o existencialismo antes de condenar o estilo de vida burguês como sendo o principal carrasco do protagonista. A discussão não é inédita – e para nós, filhos da sociedade contemporânea, certos motivos soam anacrônicos -, mas a abordagem introspectiva, enigmática e compassiva não é apenas adequada aos ditames do movimento – similar, dada às assinaturas próprias de cada autor, a de Antoine Doinel em

Os incompreendidos e a de Michel Poiccard em Acossado – mas também envolvente pois, à medida que o prazo está expirando, reduzem-se acentuadamente as chances de Alain descobrir uma razão para viver. Pelo contrário, Alain esta seguro da própria morte e dá sinais disto desde o princípio. Ele oferece seu relógio como forma de pagamento, símbolo da irrelevância que o tempo agora desempenha em sua vida; coleciona recortes de jornal macabros e obituários; saca todo seu dinheiro e não se incomoda de deixar ao taxista um trocado polpudo.

A ideia suicida está formada perfeitamente em sua cabeça, e motivar-nos a encontrar possíveis brechas onde ainda pode se esconder o jovem entusiasta e cheio de vida que ele deva ter sido, ao menos segundo alguns depoimentos dos amigos, é um dos méritos da narrativa de Louis Malle, que não cede a respostas fáceis, ainda que sugira o estresse pós-traumático da 2ª guerra mundial, o “constante sentimento de ansiedade” e a infelicidade provocada na esposa americana Dorothy, que não conhecemos, como algumas de muitas pistas cumulativas.

O que é irônico, pois o apático e decidido Alain inspira uma multitude de sentimentos naqueles a seu redor: Lydia (Léna Skerla) afirma “amá-lo de uma forma especial”, Dubourg (Bernard Noël), um ex-amigo de festas, agora está casado e conforta-o a encontrar paz e a pintora interpretada por Jeanne Moreau urge-o docemente a recordar o passado. Mas isto parece pequeno a quem “recusa-se a envelhecer, não cansa de ver miragens e não tolera mediocridade”, uma frase que define o inalcançável patamar que Alain desejava alcançar e não conseguiu, quiça uma vida idealizada e desprovida de ilusões, decepções e frustrações.

Para acentuar a agonia de Alain ainda mais, as conversas em voz alta das mulheres nas ruas, a contagiante alegria de crianças brincando e os risos de jovens parecem um deboche cruel dispostos somente para destacar o distanciamento do protagonista em relação aos valores mais simples da vida, bem como a sua inadequação no meio. Isso está registrado na atuação discreta e melancólica de Maurice Ronet que revela só o mínimo necessário de um isolamento que paradoxalmente cresce a cada novo comentário gentil ou caridoso de seus amigos.

Aliás, enquanto Alain curiosamente afirma não ser “uma força da natureza”, o mesmo não pode ser afirmado de Ronet que, sorumbático mas tenaz e comprometido, cativa com um retrato preciso do homem médio em que qualquer um pode se ver refletido pelo menos algum dia na sua vida. Um leitor de O Grande Gatsby que, igual ao trágico protagonista de F. Scott Fitzgerald, perdeu a peça restante da ilusão que lhe conferiria vontade de viver. A única diferença é que neste drama de Louis Malle, essa peça não é o amor de uma mulher, mas um sentimento genérico, íntimo e indescritível, e portanto acessível às projeções de cada um.

 

Elenco: