ERA UMA VEZ O CINEMA


8½ (1963)

cover 8½

link to 8½ on IMDb

País: Itália, 138 minutos

Título Original:

Diretor(s): Federico Fellini

Gênero(s): Drama

Legendas: Português,Inglês, Espanhol

Tipo de Mídia: Cópia Digital

Tela: 16:9 Widescreen

Resolução: 1280 x 720, 1920 x 1080

Avaliação (IMDb):
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8.0/10 (101082 votos)

DOWNLOAD DO FILME E LEGENDA

PRÊMIOS star star star star star

Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood, EUA

Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira

Oscar de Melhor Figurino em Branco e Preto (Piero Gherardi )

Prêmios Bodil - Copenhague, Dinamarca

Bodil de Melhor Filme Europeu (Federico Fellini)

Sindicato dos Jornalistas Críticos de Cinema, Itália

Prêmio Fita de Prata de Melhor Diretor de Filme Italiano (Federico Fellini)

Prêmio Fita de Prata de Melhor Trilha Sonora (Nino Rota)

Prêmio Fita de Prata de Melhor Atriz Coadjuvante (Sandra Milo)

Prêmio Fita de Prata de Melhor Roteiro (Federico Fellini, Brunello Rondi, Tullio Pinelli, Ennio Flaiano )

Prêmio Fita de Prata de Melhor Estória Original (Federico Fellini, Ennio Flaiano)

Prêmio Fita de Prata de Melhor Fotografia em Branco e Preto (Gianni Di Venanzo )

Prêmio Fita de Prata de Melhor Produção (Angelo Rizzoli)

Festival Internacional de Cinema de Moscou, Rússia

Grand Prix (Federico Fellini)

Círculo dos Críticos de Cinema de Nova York, EUA

Prêmio de Melhor Filme Estrangeiro

Prêmios Cálices de Ouro, Itália

Prêmio Cálice de Ouro de Melhor Direção (Federico Fellini)

Sinopse: O italiano Federico Fellini geralmente costuma ser um dos primeiros cineastas que os cinéfilos tomam conhecimento, e atraídos pelo prestígio de seu nome, correm atrás e devoram grande parte de sua filmografia, além de ler centenas de comentários escritos sobre a sua obra. Funciona como uma janela, para depois então se descobrir outros diretores essenciais, e não tão consagrados.

A primeira fase de Fellini nos anos cinqüenta surge como um sopro de ar no neo-realismo italiano, e culmina no grande painel social de A Doce Vida, mais ousado, transgressor e surrealista, quando então sua carreira sofre uma guinada que o levaria à autobiografia total em , um filme de transição que definitivamente rompe as fronteiras entre o plano real e o onírico. O que pode se tornar tortuoso ou confuso ao espectador desavisado, uma vez que o filme nem sempre se interessa em ser claro ou explicar suas intenções e fantasias; e toda essa loucura visual se faz presente desde o pesadelo encenado no começo da narrativa.

8½ é um filme sobre os tormentos da criação artística, em volta da crise pessoal e da consciência dilacerada de Guido Anselmi (Marcello Mastroianni). A angústia de um diretor que precisa filmar, de um artista com a necessidade e a dificuldade de se expressar. Suas idéias pareciam tão claras, achava que tinha algo simples a dizer e desejava fazer um filme honesto, sem nenhuma mentira. Um filme que pudesse ser útil para todos e ajudasse a enterrar o que de morto carregamos. Mas compreendia ser o primeiro a não ter coragem de enterrar nada, com a cabeça confusa e se perguntando em que momento da vida ele errou. Um artista que, por fim, assume não ter nada a dizer, mas com o desejo de dizê-lo assim mesmo e seguir em frente o seu caminho. E que então questiona os seus fantasmas, que respondem que o cineasta é livre, mas precisa saber escolher e agir logo. E avisam que já não lhe resta muito tempo.

É incontestável que 8½ consegue transcender a condição de uma simples egotrip de seu diretor para se tornar uma obra de arte em torno do processo criativo da mente de um cineasta. Mas a maneira como Fellini concebe o seu universo tão particular pode não atrair e até afastar a atenção de quem o vê. Ainda que o filme não tenha o caos narrativo de algumas das obras posteriores do italiano, em 8½ se misturam o presente, o passado, o devaneio e o sonho, quase sempre sem aviso prévio e com o vôo livre da imaginação sem limites do cineasta, em cenas em meio às sombras ou envoltas em névoas. O que é bastante sedutor à primeira vista, corre também o grande risco de, cedo ou tarde, sucessivamente e a qualquer momento, se perder (e podendo, quem sabe, mais adiante reencontrar) o fio da meada, o que para muitos pode se converter em uma experiência fatigante.

É também um filme cheio de simbolismos e metáforas visuais, muitas das quais difíceis de discernir e acompanhar. Um exemplo é a breve imagem do seu ideal de amor puro, genuíno, encarnado pela personagem de Claudia Cardinale aparecendo sorridente, linda e luminosa, entregando-lhe um belo e transbordante copo de água, o que seria a representação de um amor cristalino, puro e diáfano, algo que o homem perdeu muito cedo ou com o qual jamais se deparou. Na maioria das vezes, cabe ao espectador conferir ou encontrar sentido para grande parte das seqüências enigmáticas que formam o todo bastante inusitado e fascinante que forma 8½, ou talvez o mais aconselhável seja deixar-se levar pela sua narrativa lúdica e sensorial e encarregar o nosso inconsciente de atribuir significado ao que testemunhamos na tela, mais ou menos à maneira de outro mestre do cinema, o espanhol Luis Buñuel.

Os conflitos com a religião católica e a relação com as mulheres ocupam um dos pontos centrais dentro da obra. Em um dos seus delírios, o personagem imagina unir na mesma dança a esposa Luisa (Anouk Aimée, que está bastante parecida com a verdadeira mulher de Fellini, a atriz Giuletta Masina) e a amante Carla (Sandra Milo, que mantinha mesmo um caso com o diretor italiano). A própria esposa, por sinal, em uma das discussões do casal o define como um curioso, dono de uma curiosidade quase infantil. Mas o ápice de 8½ é com Marcello Mastroianni de chapéu e chicote em uma sauna, acompanhado de todas as mulheres de sua vida fantasiadas nas mais diversas formas, como que numa espécie de harém, e que em determinado momento se rebelam contra o realizador. A cena transcorre ao som da "Cavalgada das Valquírias", de Richard Wagner, e com certeza está incluída entre as imagens mais desvairadas e míticas da história da sétima arte, uma das tantas visões inventivas e situações perturbadoras que compõem o universo felliniano.

Barroco e cheio de extravagâncias, 8½ é um filme que toma novas formas e se delineia de maneiras inesperadas a cada revisão. É também o ponto de partida com o qual a obra de Fellini tomaria um novo rumo, com suas películas posteriores tornando-se mais auto-centradas em seus devaneios e fantasias − ou nos da sua esposa, Giuletta Masina (como no filme seguinte do diretor, Julieta dos Espíritos). Até quando fala da Roma antiga, como em Satyricon e Roma, concebe uma Roma que só existiu em sua imaginação. Uma das razões que fez com que seu cinema daí pra frente desagradasse muitos críticos e cinéfilos. Particularmente, Fellini e seu 8½ nunca estiveram entre os meus deuses cinematográficos. Admiro os seus melhores filmes, mas com uma admiração contida, fria, distante e não-apaixonada. São obras que não me arrebatam. Mas é um marco do cinema do século XX.

 

Elenco: